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domingo, 15 de fevereiro de 2009

O SURGIMENTO DO ENSINO SUPERIOR EM SERGIPE DESDE AS PRIMEIRAS CADEIRAS ATÉ A CRIAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE.

Carlos Alberto Gois, Licenciado em história pela Universidade Tiradentes em 2007/2, cursando Arqueologia Bacharelado pela Universidade Federal de Sergipe.

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo principal demonstrar o surgimento do ensino superior em Sergipe, até as datas festivas de inauguração da Universidade Federal de Sergipe. É nesse âmbito que fica assim disposto todo o histórico educacional tanto do nosso estado quanto do Brasil. Este artigo foi desenvolvido através de pesquisas bibliográficas, revistas, livros, pesquisas em sites da web, todas citadas nas referencias. O artigo trás em seu desenvolvimento os fatos mais importantes referentes à educação no Brasil em suas três fases, colonial, imperial (regencial) e república. Mas tem como ponto principal mencionar a educação em Sergipe, principalmente o nível superior, discorrendo os fatos desde as primeiras cadeiras, em São Cristóvão, até o surgimento da UFS.

Palavras-chave: Ensino superior. Educação. Sergipe. Universidade.

1 – INTRODUÇÃO

A educação brasileira sempre foi deixada em segundo plano pelos seus governantes. No inicio da colonização quem se responsabilizou pelo ensino foram os jesuítas, claro que este ensino, visava principalmente o ensinamento religioso, mas foi algo que se devem tirar bons frutos. Esse ensino religioso tem uma explicação, pois nos séculos XV e XVI a Europa vivia grandes conflitos, tanto financeiro, ligado as grandes navegações e as novas rotas para as Índias Orientais, quanto cultural, esta atrelada a diversos fatores como: o renascimento cultural; a revolução cientifica e principalmente a reforma protestante.
Com a reforma protestante iniciada por Martinho Lutero em 1517, e o desligamento de muitos reinos Europeus com o catolicismo, a igreja viu-se “num beco sem saída”, pois necessitava tanto dos impostos pagos pelos reinos quanto dos dízimos que os fieis pagavam. A igreja tinha plenos poderes sobre tudo na Europa, principalmente na idade medieval e não queria perder tudo da noite pro dia, e analisando as possíveis brechas deixadas pelas reformas, a igreja ataca com a contra reforma, fato este que ira influenciar definitivamente no berço da educação brasileira.
Como foi dito no começo, a educação brasileira teve nos seus primórdios como docentes os jesuítas, isso porque a igreja em um dos seus pontos da contra reforma enviou os padres jesuítas com as caravelas que saiam da Europa para os países do novo mundo, este descoberto por Cristovam Colombo em 1498, por isso chamado de novo mundo, faz um paralelo a Europa que seria a assim chamada de velho mundo. O novo mundo ou America continha em seu território povos que educavam seus descendentes com extrema peculiaridade, uma vez que, eram ensinados para os jovens os caminhos que eles iriam seguir em sua caminhada, religiosa ou social. Mas com o pacto da igreja com os dois “países”, Espanha e Portugal, pois somente eles ainda permaneciam do lado do catolicismo e na época eram os dois países mais importantes do mundo, eles levaram os padres jesuítas para as terras recém descobertas causando assim um impacto cultural gigantesco, visto até os nossos dias, pois não é a toa que a America Latina, é aonde esta concentrada o maior número de católicos no mundo inteiro, a igreja veio fez e fez bem feito, destruiu quase que por completo as culturas pré-colombianas.
Com isso, não só o Brasil, mas todos os países conquistados por portugueses e espanhóis, no novo mundo tiveram em suas raízes educacionais a influencia maciça da igreja católica.
Logo após os jesuítas a educação se viu de mal a pior, com o “rompimento” educacional religioso imposto pelo Marques de Pombal, ele propôs um novo método de ensino conhecido como “aulas régias”. Esse modelo de ensino tinha por objetivo à melhoria da educação, mas o que se viu foi uma educação destinada apenas para uma minoria, ou seja, para os detentores do capital e do poder brasileiro. As aulas régias eram financiadas pelo rei português através dos impostos cobrados principalmente da carne bovina e do vinho, esse imposto ficou conhecido como um “subsidio literário”.
A educação teve uma melhora pouco significativa com a vinda da família real para o Brasil. Esses fugindo das incursões de Napoleão Bonaparte na Europa. A partir daí, foram criadas faculdades de direito e de medicina, entre outras. Cabe lembrar que, com a vinda da família real ao Brasil iniciam-se as bases para a criação de uma universidade nos moldes modernos, disponibilizando ensino, pesquisa e extensão, isso só ocorreria 124 anos depois, em 1932 com a criação da USP – Universidade de São Paulo. Mas mesmo com a vinda da família real e um inicio de ensino superior, o que mais chama a atenção é que em relação aos nossos vizinhos o Brasil foi o ultimo a criar um ensino superior em seu território, temos os casos da America espanhola e a America inglesa que desenvolveram suas universidades ainda na fase colonial de suas histórias.
Hoje vivenciamos a expansão das universidades tanto publicas quanto particular, mas nem sempre foi assim, em Sergipe, por exemplo, tivemos por tantas vezes pedida pelo presidente da província e negada pelos órgãos competentes, à instalação de cadeiras para o ensino de filosofia, retórica, lógica e geometria. Por vezes essas cadeiras só viriam a surgir em 1833, sendo a primeira cadeira em São Cristovão. A partir desse momento Sergipe entra num rol até então muito questionado e exigido perante aos governos, que era o de ter em seu berço um ensino em nível “superior”.
Sergipe antes de conseguir essas cadeiras e até mesmo depois de conquistá-las ainda assim era conhecida como o lugar, onde seus filhos mais ilustres conseguiam projeção intelectual de fora para dentro do estado, pois os melhores cursos estavam em outros centros, como por exemplo, Recife, Rio de janeiro, Salvador. Com este pontapé, Sergipe viria a se desenvolver intelectualmente, mas até chegar a um patamar considerável muitas foram as melhoras e as vitorias conquistadas pelo corpo intelectual sergipense, e talvez a maior vitória viesse em 1968 com a criação da Universidade Federal de Sergipe, que surgiu a partir de um decreto disposto na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1961.

2 – DESENVOLVIMENTO

2.1 – O inicio da educação no Brasil Colonial.

Brasil 22 de abril de 1500, a esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral desembarca em nosso país. Com eles vem uma infinidade de mudanças para os povos que aqui habitavam. A vida, os costumes, as crenças, enfim o cotidiano em geral dos nativos brasileiros havia chegado ao fim. A partir daquele momento seriam ensinados novos costumes, ou seja, uma cultura totalmente diferente seria implantada nas mentes dos nossos índios.
Após o descobrimento, Portugal deixou as terras do novo mundo “abandonadas”, e após algumas investidas por parte de franceses e holandeses nas novas terras, Portugal resolve tomar posse definitivamente do seu território antes que seus inimigos assim o fizessem. Com isso a igreja católica envia juntamente com a esquadra portuguesa os padres jesuítas para discorrer os ensinamentos católicos aos povos do novo mundo. Os padres jesuítas surgem como uma resposta à reforma protestante ocorrido na Europa no século XVI, esse processo ficou conhecido como contra reforma. A intenção da igreja com a criação desta ordem era o de conquistar novos adeptos, uma vez que eles haviam perdido milhares na Europa, esse projeto foi tão bem sucedido no novo mundo, que hoje a América Latina é o local onde está concentrado o maior número de católicos no mundo.
A ordem dos jesuítas foi criada por Inácio de Loyola e canonizada pelo papa Paulo III onde passam a ter a função de educadores e por que não de soldados militares da igreja. Após a publicação em 27 de setembro de 1540 de uma bula, esta chamada de “bula regimini militantis ecclesiae”, ficou confirmado tanto a criação quanto a canonização da ordem.
Os jesuítas chegam ao Brasil em 1549, sendo o primeiro provincial o padre Manoel da Nóbrega, conselheiro de Mem de Sá (terceiro governador geral do Brasil). Tendo um grande obstáculo, a língua, os padres jesuítas tiveram que aprender o dialeto disposto na colônia para poder transmitir os seus evangelhos e seus ensinamentos.

Para pregar o evangelho aos índios, os jesuítas procuraram aprender o tupi-guarani. Como o idioma não era uniforme, eles o padronizaram, eliminando dialetos. Essa versão do tupi recebeu o nome de Nheengatu (língua boa, ou língua geral). Em 1555, o padre José de Anchieta chegou a escrever uma gramática tupi. A língua geral predominou até o século XVIII no sul do Brasil, onde o português era pouco falado. (SERIACOPI & SERIACOPI, 2005, p. 195).

Com tantas dificuldades os jesuítas ainda enfrentaram a resistência dos nativos mais velhos que rejeitavam as idéias impostas. Para conseguir entrar nas aldeias os padres usaram as crianças como um caminho mais fácil, estas eram atraídas principalmente através das musicas que os jesuítas criaram como forma de incentivo, estas musicas declamavam orações, trechos da bíblia, os mandamentos cristãos, entre outras frases pregadas pela igreja.
Com o passar do tempo ficou percebido que as atitudes dos jesuítas não estavam dando resultado, pois o método utilizado por eles era ineficaz, uma vez que, saiam de aldeia em aldeia pregando e não se fixavam junto aos índios. Foi a partir daí que Manoel da Nóbrega, teve a idéia de criar os aldeamentos, onde os jesuítas não sairiam mais de aldeia em aldeia e sim reuniriam grupos em um mesmo local. Esses aldeamentos começaram a trazer problemas para os jesuítas, sendo que ali se reuniam nativos de varias tribos e muitos eram inimigos seculares. Esses aldeamentos também fizeram com que os jesuítas aprendessem os conhecimentos milenares dos índios, quando se diz respeito à saúde, muitos foram os remédios e curas que foram ensinados aos padres e estes passaram todo o conhecimento adquirido para a Europa.
Converter os índios ao cristianismo não era a única preocupação, tinha também os filhos dos nobres que aqui habitavam e necessitavam de educação. Por esse motivo foram criados diversas escolas e colégios, no século XVIII, havia dezenove colégios jesuítas na colônia espalhados pelos principais pontos.

Um desses colégios foi construído no planalto de Piratininga, na capitania de São Vicente, sob a liderança do padre Manoel da Nóbrega. Fundado no dia 25 de janeiro de 1554, em torno dele se formou o povoado São Paulo de Piratininga, que em 1560 foi elevado à condição de vila. (SERIACOPI & SERIACOPI, 2005, p. 195).

Os colonizadores viam nos índios uma grande mão-de-obra escrava para o cultivo da cana-de-açúcar e também na criação do gado, este introduzido pelos colonizadores, sendo que tanto o gado quanto o cavalo, foram trazidos da Europa para o novo mundo, pois em terras brasileiras o maior animal conhecido era o javali. Com esta visão portuguesa diante dos nativos, os jesuítas viram os seus planos caírem por água abaixo, pois se os índios tivessem que trabalhar o dia todo não teria tempo, nem animo para escutar as pregações. Foi a partir deste momento que os portugueses começaram a trazer para o Brasil a mão-de-obra africana, estes vinham em navios chamados de negreiros, muitos morriam na travessia do atlântico e quando aqui chegavam eram vendidos como mercadorias. Os jesuítas se opunham contra a escravidão dos índios, mas a dos negros não, pois não consideravam os negros como seres humanos e capazes de compreender os ensinamentos cristãos.
Depois de 210 anos de “domínio” jesuíta sobre os índios, o Marquês de Pombal expulsou-os do território brasileiro e a partir desse momento a educação brasileira viu-se ruir. Claro que quando os jesuítas comandavam não era de boa qualidade, mas a partir do Marquês tudo piorou. Os jesuítas expulsos, muitos foram levados para Lisboa, e sofreram com a inquisição, pois eram considerados traidores, outros conseguiram abrigo em antigas casas romanas, estas cedidas pelo Papa Clemente XIII, e a ordem só viria surgir novamente no Brasil em 1843, com o papa Pio VII, mas os jesuítas jamais teriam novamente a autonomia diante da educação dos nativos e dos filhos dos nobres e burgueses brasileiros.

Uma Terra Sem Males A Cruz Missioneira é um símbolo místico da presença dos jesuítas entre os povos indígenas da América do Sul. Representa a força do Cristianismo, é um símbolo do bem contra o mal, a sua forma de dois “braços” significa a fé redobrada. Ao adquiri-la deve-se fazer um pedido íntimo em segredo, a Deus, e usá-la como protetor espiritual para si mesmo ou no lar junto à família. (www.arte-missioneira.blogspot.com) acessado em 12/11/2008.


2.2 – A Educação em Sergipe desde o seu processo inicial até o surgimento da universidade federal.

Para entender a educação em Sergipe, é necessário voltar ao inicio da colonização portuguesa no Brasil. Após ser colonizado, no Brasil foi pensado e implantado pelos portugueses a monocultura da cana-de-açúcar, uma atividade que dependia muita da força física dos trabalhadores. Como Sergipe era território baiano na época, ficou destinada ao “estado”, a criação de gado, este serviria para sustentar a província da Bahia de diversas formas, tanto na moenda, no transporte da cana-de-açúcar dos canaviais até os galpões, até mesmo na alimentação das pessoas envolvidas com o engenho. A criação de gado foi à base para a organização da economia e da sociedade sergipana.

Mantendo-se até a primeira metade do século XVIII como atividade mais importante da economia sergipana, a pecuária local, a partir de então além de abastecer de gado as regiões vizinhas, passou também a fornecer animais aos engenhos que foram surgindo em Sergipe, além de abastecer os núcleos urbanos que iam crescendo, tais como Santo Amaro, Estância, Laranjeiras, Propriá e São Cristóvão, onde estava instalada a Capital. (SANTOS & OLIVA, 1998, p. 33).

Sergipe não fugia as características educacionais do resto da colônia, tendo nos padres católicos, os principais professores.

Na sociedade sergipana do final do século XVIII, a educação estava limitada aos ensinamentos que eram oferecidos a poucas pessoas por frades de diversas ordens religiosas. Isto se dava através das aulas de primeiras letras e gramática latina que funcionavam na capital e na sedes de algumas vilas. Na zona rural os proprietários iniciavam a pratica de contratar professores para darem aulas particulares aos filhos, procedimento reproduzido em maior escala nos engenhos durante o século XIX. (SANTOS & OLIVA, 1998, p. 47).

Com o passar dos anos Sergipe vislumbrava o desmembramento da Bahia, tornando-se assim independente. E finalmente em 1820 aos 08 de julho a carta chamada de Carta-Régia foi concedida pelo rei de Portugal D. João VI, onde esta designava a independência do estado, isto se daria como parte das mudanças que o rei causara no território brasileiro com a vinda da família real de Portugal para o Brasil. Mas os baianos não aceitaram e invadiram Sergipe em 1821 e o governador da nova província, Carlos César Burlamaqui, foi levado preso para Salvador. Sendo assim necessário uma intervenção do imperador D. Pedro I, que invadiu a Bahia pelas fronteiras Sergipanas e expulsaram da Bahia todos que eram contra a emancipação de Sergipe bem como também havia focos de resistência perante a independência do Brasil diante de Portugal.
A partir daquele momento Sergipe viveria novos ares e uma perspectiva melhor quanto ao futuro de sua população, pois agora as decisões seriam tomadas dentro da província para a província, e é a partir desse momento que Sergipe começa a pensar grande em relação ao ensino educacional, mas mesmo assim o censo de 1890, o primeiro censo após a proclamação da republica ocorrida em 15 de novembro de 1889, informava que no estado sergipano 89% da população eram analfabetas.

(Imagem extraída do livro de Lenalda Andrade Santos & Terezinha Alves Oliva, “Para Conhecer a História de Sergipe”, p. 57).
Com a emancipação Sergipe começou a surgir no cenário intelectual, mesmo dentro do estado não tendo faculdades, os nossos intelectuais saíram para os principais centros do país, como Recife, Salvador, Rio de Janeiro e até mesmo para fora do Brasil. Mas Sergipe ainda no século XIX, fazia pedidos ao imperador para a implantação de cadeiras de nível superior em nosso “estado”. Com tantos problemas na área educacional não desestimularam Monsenhor Silveira a fundar a imprensa sergipana e o primeiro jornal a circular no “estado”, foi o Recopilador Sergipano, este surgiu no município de Estância.
No fim do império e inicio da republica no Brasil, surge em Sergipe colégios e escolas que mudaria o cenário do ensino em Sergipe. O Atheneu, tradicional colégio publico sergipano, a escola normal destinado ao publico feminino, ambos representaram um grande avanço, nesse segmento.
O número de vagas foi ampliado no inicio do século XX, com a ampliação do Atheneu e da escola normal e a criação de diversas entidades particulares.

A demanda foi sendo atendida com a abertura de novas instituições particulares em Aracaju: Nossa Senhora de Lourdes (1903), Grêmio Escolar (1906), Salesiano (1911), Tobias Barreto (1909) e Instituto América (1920). No interior, pelo menos duas congregações de religiosas criaram colégios exclusivos para meninas do curso primário: O Nossa Senhora das Graças em Propriá (1915) e o Imaculada Conceição em Capela (1929). Na capital foi de grande importância o aparecimento de estabelecimentos voltados para o ensino profissional, fornecendo alternativas para os jovens de menor poder aquisitivo: Escola de Aprendizagem Artífices (1911), Liceu Profissional Coelho e Campos (1923), Instituto de Química (1923), Escola de Comércio Conselheiro Orlando (1926). (DANTAS, 2004, p. 58).

A educação em Sergipe ganhava cada vez mais com o surgimento de escola e colégios e ainda com a criação de entidades onde os intelectuais se encontravam para discutir suas idéias, dentre as principais entidades criadas está o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe em 1912. O instituto histórico já existira em outras localidades do território nacional e em Sergipe foi um marcou, pois a partir dali os intelectuais começaram a se reunir formalmente para poderem discutir sobre diversos assuntos e contribuindo também com a publicação de diversos periódicos e revistas. Além do instituto histórico, outro marco da nossa sociedade foi a criação da Biblioteca Pública em 1913/14, esta trouxe para o cenário intelectual algo que até então era restrito a poucos, um local onde era possível escutar recito de falas, recitais e conferencias para um publico mais diversificado.
Sergipe começara há vivenciar outros tempos com a implantação de cursos superiores, claro sem muito sucesso, mas tendo um inicio e este que daria suporte para o surgimento da Universidade Federal em 1968.
Com o passar dos anos, ainda na republica velha, só que agora com a constituição de 1934, o estado passa a ter mais responsabilidades sobre a educação. Em Sergipe esses números são vistos há olhos nus, segundo Dantas em seu livro “História de Sergipe República”, “As despesas da União com o ensino e cultura em Sergipe mais que duplicaram de 1932 para 1935 e o número de escolas primarias passou de 432 (1933) para 635 (1943). ” (DANTAS, 2004, p.105).
Quando passado à fase da republica velha Sergipe começa a receber diversas faculdades, umas trazidas pela igreja católica, outras formadas por profissionais liberais, mas o que importava neste momento é que Sergipe estava preste a formar a sua universidade. Nos demais campos intelectuais, foi neste momento que ficou percebido o amadurecimento da sociedade quando se faz referencia aos intelectuais. As publicações continham mais qualidade, o número de publicações também aumentou, e o que se viu a partir deste momento em Sergipe foi uma grande ascensão intelectual do estado.

2.3 – O Surgimento do Ensino Superior em Sergipe.

A história do ensino superior em Sergipe poderia ser contada como uma telenovela, pois tem o seu lado dramático e um “final” feliz. Começa logo após a emancipação de nosso estado, e até mesmo antes, os primeiros intelectuais sergipenses tinham em seus currículos uma formação superior em outros estados e até mesmo em outros países, e isso gerava revolta, uma vez que em muitos lugares já existiam cadeiras de ensino superior e Sergipe estava excluído deste cenário.
Se Sergipe reclamou por muitos anos a criação de um ensino superior em seu berço, o Brasil não foi muito diferente. As colônias espanholas espalhadas por toda América Latina, já tinham universidades, enquanto no Brasil só veio surgir em 1932 com a USP (Universidade de São Paulo). Há registros de tentativas anteriores, mas nada de concreto, o que se viu foi à criação de faculdades de direito, medicina, entre outros, após a vinda da família real, em 1808, estes fugindo das perseguições do francês Napoleão Bonaparte.
Durante praticamente toda década de 20 do século XIX, os sergipanos estiveram reivindicando a vinda das faculdades para o estado, e esse fato só viria a ser consumado na década de 30 do mesmo século.

Valendo-se da faculdade concedida pelo Decreto Imperial de 11 de novembro de 1831, o então Presidente da Província – Dr. Joaquim José Marcelino, em fevereiro do ano seguinte (1832), põe a concurso a primeira Cadeira pública de Filosofia Racional, e Moral, juntamente com as de Geometria, Francês e Retórica, designando os dias 28, 29 e 30 de maio do mesmo ano para os respectivos exames. Apareceu um único concorrente à cadeira de Francês, que foi provida pelo professor Joaquim Maurício Cardoso, em 4 de julho de 1832 . A de Geometria teve a sua provisão meses depois (20 de outubro de 1832) na pessoa do Frei José dos Prazeres Bulhões . (LIMA, 1995, p.25).

Após a exposição a público do edital, para o preenchimento de vagas da primeira cadeira em São Cristóvão, Sergipe passa por um processo difícil, uma vez que interesses políticos e pessoais, vão levando o ensino superior ao caos, e o que mais chamava a atenção era o poder que a igreja tinha sobre essas cadeiras. A transferência de uma cidade para outra de cadeiras como a de filosofia faz somente analisar a bagunça que era os primórdios do nosso ensino, sem um plano determinado, sem objetivos e uma população que não se importava com o que estava acontecendo.
O Brasil neste momento estava passando por um processo de transações em sua forma governamental. O império estava perdendo força, principalmente após a guerra do Paraguai, onde os homens brasileiros que ali participaram conheceram os ideais republicanos, e os negros que até então eram escravos e foram pra guerra quando voltaram não queriam mais ser escravos, pois haviam defendido a nação como um cidadão e queriam a liberdade. E assim se desenvolveu os escravos ganharam a abolição em 1888 e em 1889, o império chega ao fim e é instaurada a república.
Com uma nova forma de governo, os ideais começam a mudar, mas o que não mudou foi à postura dos senhores que comandavam a educação em nosso estado, mesmo dentro da república a igreja ainda detinha poder sobre o ensino superior.
Com o passar da república velha não só Sergipe, mas o Brasil em geral, deixaram as universidades de lado e passaram a creditar os valores do ensino aos cursos profissionalizantes, este chamado de “Reforma Capanema”, mas a partir de 1948, Sergipe começa a financiar as faculdades estaduais, tendo como a pioneira a faculdade de economia, desde então foi dado um salto importantíssimo para o aprimoramento e a criação de uma universidade dentro de Sergipe.

...Não obstante as dificuldades, em 1954 apareceu a Faculdade de Serviço Social, também ligada à Igreja Católica. Fechando o ciclo, em 1961 nascia a Faculdade de Ciências Médicas com aporte significativo do Estado. O fato é que no inicio dos anos sessenta já eram computados 12 cursos de graduação com 156 professores e 336 alunos ... (DANTAS, 2004, p. 158).

Com o surgimento de diversas faculdades nas décadas de 40 e 50 do século XX, Sergipe agora buscava a criação de sua universidade. Em 1964 o Brasil passa a ser governado por militares, e é neste momento conturbado que Sergipe viria a ganhar a sua universidade, com um decreto de 28/02/1967. A instalação festiva só viria a acontecer no dia 15/05/1968, sendo censurado a participação da classe estudantil.
Sergipe a partir deste momento teria uma nova fase em sua história, os professores não seriam mais “heróis da resistência”, até então estes ensinavam com o salário sendo uma contribuição simbólica, mas desde então eles iriam receber como tal, pois estavam incluídos em programas do governo federal, e essa conquista representaria a vitória de muitos que lutaram no inicio do império e que não estavam vivos para verem que foram eles que iniciaram a luta por um ensino superior decente para os sergipanos.

CONCLUSÃO

Este artigo apresentou um tema atual, pois hoje se escuta muito o tema universidade, pois é vivenciado o momento de expansão da mesma e uma inclusão dos menos favorecidos a ela. E o tema discorrido neste artigo tratou do surgimento do ensino superior em Sergipe, quando ele ocorreu e como ocorreu. Mas foi necessário mencionar todo um passado dentro do Brasil para ter uma compreensão maior do assunto. Esse passado não só incluiu o assunto educação, mas também todo um processo de colonização portuguesa neste território, destacando também a luta que existiu para Sergipe se tornar província, uma vez que as terras que hoje formam o estado era anteriormente ligado ao estado da Bahia. Toda luta que os intelectuais tiveram no inicio de vida da província foi recompensado mais de um século depois, essa vitória é a que estamos presenciando hoje, uma vitória dos intelectuais do século XIX, para implantar o ensino superior em nosso estado, e agora o povo de Sergipe desfrutas das diversas “batalhas”, que eles enfrentaram.
Por isso é que hoje o povo sergipano deve honra os seus estudantes do passado por essa conquista, fazendo com que essa vitória seja lembrada para sempre, pois foi despejada uma imensidão de oportunidades para os jovens do século XXI, alcançar sonhos que jamais poderiam ser alcançados antes.

THE EMERGENCE OF HIGHER EDUCATION IN SERGIPE SINCE THE FIRST CHAIRS UNTIL THE CREATION OF UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE.

ABSTRACT

This article has as main objective demonstrate the appearance of higher education in Sergipe, until the dates festive inauguration of the Universidad Federal de Sergipe. In this context that is thus prepared all the historical educational both of our state and of Brazil. This article was developed through bibliographical research, magazines, books, researches web sites, all quoted in reference’s. THE article behind in their development the most important facts concerning the ed.

key-words: Higher education. Education. Sergipe. University.

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